Ao longo do ano lectivo de 2010/2011, a PB foi responsável por um projecto de apoio ao curriculum, solicitada pela Prof. Ilda Realista, do 3.º ano turma F, da EB1 de Viana do Alentejo, edifício S. João: «Fórum de Turma: Filosofia com crianças».
Uma vez por semana, a Prof. Rosa deslocou-se à sala de aula e trabalhou com a turma, no sentido de desenvolver competências de leitura, de crítica, de reflexão.
O ponto de partida dos trabalhos foi a leitura voluntária de excertos de livros escolhidos e votados pela turma. A partir dessas leituras, fez-se um levantamento de temas que interessavam à turma. Depois, esses temas foram postos à discussão, a partir de perguntas que se iam realizando. Todas as crianças intervieram. Para realizarem a sua intervenção oral, era solicitado que anotassem o que pensavam. Verificou-se que o empenho nas respostas era significativo, registou-se uma evolução, no sentido da elaboração das respostas ter assumido uma maior reflexão, serem mais ponderadas e menos imediatas, com o decorrer das sessões. Foi interessante notar que se houve algumas hesitações, iniciais, na produção de respostas, cada vez mais se notou a vontade de participar oralmente e com maior cuidado na elaboração dos registos escritos pelas crianças, de acordo com as suas características próprias. Se houve situações em que duas crianças esquivaram-se a responder perante o grupo, verificou-se que estas situações foram ultrapassadas.
Trabalharam-se competências de trabalho no grande grupo, nomeadamente, o saber esperar pela sua vez, o saber escutar os outros, o respeito por ideias diferentes, a escolha da maioria, a recolha de votos, para apurar essas escolhas….
As competências da leitura e da escrita foram sempre trabalhadas, na medida em que, além da escrita das respostas às questões, as crianças foram solicitadas para escreverem outros textos, como poemas alusivos á floresta e eram solicitadas para a sua leitura. Muitas das leituras, temas, questões e actividades eram sugeridas pelas crianças.
Alguns temas e questões trabalhados:
O ambiente e eu
--Conseguias viver sem água?
- - O que fazer para preservar o ambiente?
-- Qual a importância das florestas?
Eu e os outros
-- Quem sou eu?
- - Será que somos todos iguais?
-- - Carinhos e afectos são importantes?
-- Será que somos todos iguais?
Felicidade
-- Já fui feliz na minha vida?
- - É fácil ser feliz?
-- Como é que sabermos se somos felizes?
-- Como é que eu sei se sou feliz?
-- O dinheiro dá-nos felicidade?
-- Somos felizes todos juntos?
A Vida em Sociedade
-- Como é viver em sociedade?
-- Queremos viver sozinhos?
-- Gostarias de viver completamente sozinho?
-- Viver em sociedade é bom?
-- Temos de respeitar os outros?
Algumas conclusões:
Levantada a questão de final do ano lectivo, “ o que é que eu aprendi nestas sessões?”, registaram-se algumas reflexões, em jeito de resposta:
-- Eu aprendi a desenvolver o meu pensamento. Aprendi também a respeitar e a ouvir os outros. Aprendi como viver melhor e a ver as diferenças.
Sofia Garcia
-- A prendi a viver com a família e com os amigos.
Mariana Viegas
--Eu aprendi tanta coisa que não me lembro de tudo, mas agora sei mais coisas do que sabia antes. E também acho que a professora também aprendeu coisas connosco.
Íris Carvalho
-- Eu aprendi a viver melhor. Aprendi que é importante ser feliz, também aprendi que é bom viver com os outros, aprendia a importância de ajudar e as demais funções das coisas.
Maria Silva
--Eu aprendi a viver em sociedade, a não criticar a raça das outras pessoas, que eu não gosto de viver sozinha, tal como pensam os meus colegas, e aprendi, a conviver mais com as pessoas.
Laura José
- Aprendi muita coisa com os meus colegas e comigo mesmo. E todas as respostas que eu dei vieram de erros que eu cometi ao longo da vida e alguns , até, vieram de amigos meus e também de memórias boas do passado, que me ajudaram a perceber as perguntas da prof. Rosa.
João Ferreira
- Eu aprendi a fazer muitas coisas como a aprender na escola e ouvir os outros e tomar atenção ao que eles dizem.
Raquel Manita Fernandes
- Aprendi que viver em sociedade é bom, se respeitarmos os outros, eles também nos respeitam. A natureza também nos dá felicidade e temos de a proteger. A natureza é importante porque dá-nos oxigénio e dá-nos comida. E as tuas aulas são fixes.
Guido Lotterman
- Aprendi a falar sobre as coisas com estas conversas.
Joana Silva
- Aprendi que há coisas boas e coisas más, que se vivesse sozinho, não tinha ninguém para me ajudar para sobreviver. Não havia comida, que eu não tinha dinheiro para viver.”
Miguel Palhais
-Aprendi a respeitar as pessoas, aprendi que não conseguimos estar sozinhos neste mundo, aprendi que precisamos de amigos e gostei muito destas aulas com a professora Rosa.
Afonso Carvalho
- Eu aprendi muitas coisas, umas palavras, como “filosofia”, “fórum”…
Ricardo Conceição
- Nas tuas aulas aprendi que não somos os únicos a viver, temos de respeitar os outros, também aprendi que o dinheiro não é importante para tudo. Podemos fazer muitas coisas sem dinheiro, como apanhar laranjas das árvores. Podemos inventar uma coisa e provar que aquilo está bom.
Rafael Silva
- Eu aprendi nas aulas que temos de respeitar todas as pessoas e se a gente respeitar as outras pessoas, as outras pessoas também nos respeitam a nós e assim vivemos bem.
David Dias
- Temos de respeitar os outros , mais velhos para não haver discussões.
João Miguel Carvalho
- Aprendi que o ambiente nos dá muita coisa, como, por exemplo, comida, bebida….
Cristiana Fadista
- Aprendi que é bom viver em sociedade, para sermos felizes.
Inês Lima
- Eu aprendi a viver em sociedade.
Filipe Gaiato
- Aprendi que nós somos todos iguais, que não precisamos de ter dinheiro para comer, aprendi a conviver com os outros e a viver em sociedade.
Catarina Mochila
-- Aprendi que é muito importante viver com as outras pessoas, especialmente , com a família e com os amigos.
Ana Catarina Bento
Questão: Seriamos felizes se vivêssemos totalmente sós?
- Não, porque não teria amigos, nem pessoas para conviver, não poderia aprender nem emendar os meus erros, porque era tudo à minha maneira, nem teria ninguém para proteger e ajudar. Não havia ninguém para proteger também a natureza e a tratar melhor dela.
João Ferreira
Questão: Somos todos iguais?
- Não, porque, por exemplo, pessoas que são gémeas são iguais por fora, mas têm sentimentos diferentes e também, mesmo que nós tenhamos as mesmas opiniões, deves, de vez em quando, ter opiniões diferentes: não podemos estar sempre de acordo sobre os mesmos assuntos. Mas seremos sempre pessoas!
João Ferreira
- No exterior, somos diferentes, mas no interior somos iguais. Para além de sermos diferentes, temos de tratar bem as outras pessoas.
Maria Silva
- Somos todos iguais, ninguém é mais do que o outro. Mas também não somos todos iguais, porque não temos as mesmas capacidades nem a mesma família.
Sofia Garcia
Porque é que somos iguais?
- Nós somos iguais porque temos coração, temos cérebro e temos o que está cá dentro igual.
Raquel Manita Fernandes
Questão: O dinheiro traz a felicidade?
- O dinheiro traz mais ou menos a felicidade: nós precisamos do dinheiro para comprar coisas, mas podíamos trocar coisas com as outras pessoas.
Maria Silva
- Às vezes sim, outras não, porque , por exemplo, se o nosso irmão se zangar com a gente, o dinheiro não serve para nada.
Intervenções espontâneas:
“porque é que existe o mundo?
Podes ajudar-me na resposta? Eu acho que o mundo existe porque ele apareceu. Está certo? O mundo apareceu? “
“Eu queria dizer porque é que as pessoas existem. As pessoas existem porque apareceram no mundo. E têm de cá estar no mundo, porque é uma terra bonita, há plantas, há tudo o que é preciso para viver.”
Raquel Fernandes
“Ao longo dos anos, temos de arranjar melhores formas para a natureza viver melhor, porque a natureza dá-nos oxigénio e precisamos dela para respirar, para vivermos.”
Joana Silva
“Ler é crescer”
Filipe Gaiato
“Muito obrigada pela «filosofia» que nos ensinaste.”
Íris Carvalho e Maria Silva
A prof. Rosa respondeu, para todas as crianças, que foi um prazer trabalhar com estes meninos e meninas. Teve pena de não poder ir também, a outras turmas, mas por limitações horárias não foi possível.Gostou muito de saber como pensavam e de ter assistido ao crescimento destas meninas e meninos, que, a olhos vistos, mostraram ser pequenos/as pensadores/as, com o embrião da Filosofia a germinar no seu interior. Desejou-lhes as maiores felicidades e êxitos pessoais e escolares e agradeceu, do fundo do coração a colaboração de todos os meninos e de todas as meninas nas actividades. A Prof. Rosa também está muito agradecida à Prof. Ilda Realista, que possibilitou este trabalho e que colaborou sempre nas actividades.