quarta-feira, 8 de junho de 2011

Entrevista a uma das nossas escritoras: Arlinda Mártires

Um grupo de alunos do CEF IOSI entrevistou a sua professora de Língua Portuguesa, que também é poeta e escritora, a Professora Arlinda Mártires, uma cidadã do mundo. Eis o que resultou desta entrevista:


                                                 Prof. Arlinda com os seus alunos em Timor Leste

"Arlinda Mártires Nunes é professora e escritora. Lecciona Língua Portuguesa na Escola Básica e Secundária Dr. Isidoro de Sousa. Fez formação de professores na Guiné-Bissau (93-98), na Namíbia, fronteira com o sul de Angola (2006-2008) e, entre 2008 e 2010, ensinou Português em Timor-Leste.
Tem 3 obras publicadas Além-Rio (poesia), Guynea (poesia) e 7 Histórias de Gatos (contos – em co-autoria com a prof. Dora Gago).

Grupo de Alunos: Como é que uma pessoa que nasce numa aldeia do Alentejo interior vem a trabalhar em diferentes continentes, em países subdesenvolvidos?
Professora: Nasci numa aldeia do Alentejo interior, muito pobre. Não havia electricidade, mas, muito cedo, comecei a ler, à luz do candeeiro a petróleo. Não podia ficar na aldeia por causa do gosto pela aventura; não queria ser uma mulher doméstica. Fui para África, quatro anos após terminar a licenciatura. Fui formadora de professores na África e na Ásia.
Grupo de Alunos: Porque escolheu trabalhar em países considerados de extrema pobreza?
Professora: Como nasci pobre, sempre tive essa vontade, esse gosto de defender os fracos, ajudar os pobres, os injustiçados e os indefesos. Sempre foi o meu motivo de vida. Aquilo que anima a minha vida é ajudar essas pessoas. Por um lado engrandece o meu conhecimento, a minha vida, e torna-me mais humilde perante os outros, perante o mundo. Aquilo que mais admiro nas pessoas é a humildade, a simplicidade. Aprendi muito com essa gente pobre, quer em África, quer na Ásia.
Grupo de Alunos: Tem 3 livros publicados. Essas experiências contribuíram para a sua escrita?
Professora: Sem dúvida. No entanto, sempre tive pendor para a escrita, principalmente para a poesia. Além-Rio é, tal como nome indica, sobre o Alentejo, a minha verdadeira pátria, a minha musa.

 Guynea é sobre a Guiné-Bissau, país onde vivi 5 anos muito intensos, de contacto directo com o povo, com muitas coisas boas e outras más, como foi o caso da Guerra civil, em 1998. O 3.º livro é de contos. São 7 histórias acerca de gatos, animal que adoro, e escrevi em parceria com a Prof. Dora Gago.

Grupo de Alunos: Agora está de volta ao Alentejo. Como se sente perante a situação de crise em que Portugal se encontra?
Professora: Estou muito desencantada com a decadência a que chegou Portugal. A crise, generalizada na Europa, é tanto maior no nosso pais por vários motivos: somos mais pobres, temos uma mentalidade terceiro mundista, somos um povo medroso, acomodado, ignorante e medíocre (salvo honrosas excepções). Deixamo-nos governar por gente sem escrúpulos, que favorece parentes e amigos, que enriquece alarvemente à custa dos mais pobres e desprotegidos, que incorre em crimes graves de corrupção, sem merecer qualquer castigo, porque a justiça não existe.
E o povinho aguenta e vai para as manifestações, supostamente para demonstrar repúdio e revolta pelos “vampiros”, com concertinas, garrafões de vinho e fanfarras. Bebem, comem, bailam e riem, mostrando as gengivas lisas, ou os dentes pobres (porque o Serviço Nacional de Saúde é uma “treta”). Somos uns fanfarrões e cada vez mais seremos achincalhados e privados dos nossos direitos, pois não combatemos o despotismo.
Certamente, voltarei a emigrar. Sozinha, nada posso contra o sistema. É tempo de uma revolução, de uma revolta popular.  

Estivemos á conversa com a professora Arlinda Mártires Nunes, uma cidadã do mundo, uma mulher que, tendo nascido no seio de uma família pobre, conseguiu vingar, com humildade e amor aos mais fracos, aos injustiçados, aos indefesos.
Sendo curiosa e aventureira, conciliou estas suas características, divulgando a língua portuguesa em Portugal e no mundo.  

João Carlos nº 4
                                        Luís Pisco nº 7
                                                     Miguel Quaresma, nº 10
CEF  IOSI
 
                                            Professora Arlinda, este ano lectivo, com um grupo de alunos/as do 9.º ano, no concurso "Saber Fazer - A Crise", no palco do Cine Teatro Vianense.